Economics

A evolução do mercado de securitização no Brasil e o que falta para ele se desenvolver ainda mais

5/8/2025

O mercado de securitização saiu do nicho e se tornou uma alternativa relevante de financiamento para as empresas.

Quando comecei a trabalhar com securitização, o mercado brasileiro ainda era muito limitado. Em 2010, o mercado de capitais só fazia operações para o setor imobiliário, e o agronegócio era um terreno quase inexplorado. Havia desconfiança, falta de conhecimento técnico, e principalmente um abismo entre os produtos financeiros disponíveis e as necessidades reais de crédito de setores importantes da economia. Foi nesse contexto que em 2012, minha sócia e eu, que na época fazíamos parte da sociedade de outra securitizadora, realizamos a primeira emissão de CRAs (Certificadosde Recebíveis do Agronegócio). Um marco, mas também o início de uma longa jornada.

O que aconteceu desde então é uma verdadeira transformação. O mercado de securitização saiu do nicho e se tornou uma alternativa relevante de financiamento para as empresas. O próprio conceito de lastro se ampliou: saímos do tijolo para o campo, da dívida corporativa para recebíveis pulverizados. Mas essa evolução não foi linear nem fácil.

Avanços reais, desafios estruturais

Avançamos muito. Hoje temos produtos diversificados, tecnologias que tornam o controle e o acompanhamento das operações mais eficazes, e uma regulação mais moderna com a Resolução CVM 60/21. Mas ainda enfrentamos entraves importantes.

O primeiro é o desconhecimento. O investidor brasileiro médio ainda não entende plenamente o que é uma operação de securitização pulverizada — e isso gera insegurança. Muitas vezes, nestas operações, o risco de um papel pulverizado por milhares de devedores é menor que o de uma operação corporativa concentrada. Mas, por parecer mais complexo, o pulverizado é deixado de lado.

Outro desafio é a transparência. O mercado carece de informações claras, organizadas e, principalmente, acessíveis. Estamos falando de um ambiente em que muitos investidores ainda precisam de relatórios didáticos para entender seus próprios investimentos.

E isso precisa mudar. O futuro da securitização passa, obrigatoriamente, por mais informação — e não só regulatória, mas informação geral mesmo, em linguagem que todos possam compreender.

A regulação precisa acompanhar a realidade

Vivemos uma era em que a tecnologia permite fazer muito mais com menos — tokenização, rastreamento de recebíveis, integração com bases de dados públicas e privadas. Mas para isso virar realidade em escala, a regulamentação precisa ser um vetor, e não um freio. Isso exige diálogo constante entre mercado e reguladores, com pessoas técnicas participando da construção das normas.

A verdade é que, por muito tempo, criamos estruturas que funcionavam “apesar da regulação”. Hoje, temos a oportunidade de construir um ambiente em que inovação e regulação caminhem juntas. Isso exige esforço, tempo e, principalmente, vontade de fazer diferente.

Educação é a chave

Nada disso será sustentável se não investirmos em educação. Não adianta termos produtos sofisticados se quem está na ponta vendendo — e comprando — não entende o que está sendo ofertado. E aqui, não se trata apenas de cursos técnicos, mas de criar uma cultura de compreensão de risco, de análise crítica e de responsabilidade sobre as decisões de investimento.

Por fim, uma experiência

Quando uma operação não vai bem, o que importa é como se responde. Transparência, presença, informação e respeito ao investidor precisam ser pilares, sempre. Em operações complexas, especialmente as pulverizadas, não basta ter um bom jurídico: é preciso ter um bom time, uma boa governança, e ferramentas para agir rápido. Essa é a diferença entre amortizar tudo no dia seguinte de uma Recuperação Judicial de empresa que emitiu títulos ou perder bilhões.

Se hoje me perguntam o que falta para o mercado de securitização se desenvolver de verdade, eu respondo com clareza: mais entendimento, mais transparência e mais gente disposta a aprender e a ensinar. A estrutura está aí. O que falta é musculatura — técnica, institucional e humana — para que esse mercado alcance todo seu potencial.

Ao longo dessa trajetória, tive a chance de ajudar a construir uma empresa que acredita nesses pilares. Mas este artigo não é sobre a VERT. É sobre o caminho que ainda temos que trilhar para que o mercado de capitais brasileiro seja, de fato, uma via ampla, segura e eficiente de financiamento para todos os setores da economia.

Fonte: EXAME

Fernanda Mello

Palavras-chave

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