Economics

ANBIMA Summit 2025

1/7/2025

Natalia Diniz, especialista do time de RI da VERT, participou do evento e compartilha seus destaques sobre o cenário econômico global, a gestão de fundos e o futuro do mercado de capitais no Brasil.

Nos dias 25 e 26 de junho, aconteceu o ANBIMA Summit 2025, um dos maiores e mais relevantes eventos dos mercados financeiro e de capitais do Brasil.

O encontro foi uma ótima oportunidade para profissionais do setor se atualizarem sobre os principais temas que moldam o futuro dos investimentos, como inovação tecnológica, comportamento do investidor, ESG e o impacto das redes sociais.

Neste artigo, compartilho os principais destaques das palestras que acompanhei, trazendo uma análise dos debates sobre o cenário econômico global, desafios e tendências na gestão de fundos de investimento, além do papel estratégico do mercado de capitais no desenvolvimento do país.

Panorama econômico global com Paul Krugman

Durante a palestra “E o mundo, como vai?”, realizada por Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia) e Rodrigo Azevedo (sócio fundador, co-CIO e gestor da estratégia macro da Ibiuna Investimentos), Paul comentou sobre os profundos choques e incertezas que atualmente afetam a economia global, com foco especial nas recentes mudanças na política comercial dos Estados Unidos.

Segundo ele, a imposição de tarifas generalizadas pelo governo Trump representa o maior choque de política comercial da história americana. Em poucos meses, a tarifa média saltou de 3% para 17%, revertendo quase um século de liberalização do comércio e colocando em risco a estabilidade do sistema global, que até então operava com base em acordos e boa-fé entre as grandes potências econômicas.

Krugman ressaltou que o ambiente de incerteza atual, alimentado por decisões unilaterais e imprevisíveis, é sem precedentes nos EUA. Essa instabilidade cria um cenário desfavorável para os investimentos e pode eventualmente resultar em uma recessão econômica, ainda que ele considere o atual choque inflacionário como transitório. Mesmo assim, alertou que nem o FED sabe ao certo a extensão dos impactos futuros.

Um dos sinais dessa deterioração é o comportamento atípico do dólar. Mesmo com os juros em alta e tarifas que tradicionalmente fortaleceriam a moeda americana, o dólar perdeu valor, o que Krugman enxerga como reflexo de uma perda de confiança nos EUA enquanto porto seguro. Ele chegou a comparar o país a economias emergentes como Brasil e Argentina, marcadas por volatilidade e perda de previsibilidade.

Ainda assim, o Paul acredita que o papel do dólar continua sólido. Para ele, a moeda americana exerce uma função semelhante à do idioma inglês nas comunicações globais: sua dominância não está diretamente ligada ao desempenho dos EUA, mas sim ao fato de já estar profundamente enraizada no sistema global. O maior risco, segundo Krugman, não é que o dólar seja substituído por outra moeda, mas sim que não haja nenhuma substituição, que geraria ainda mais incerteza nos mercados.

Sobre o Brasil, Krugman comentou que o país não está entre os mais vulneráveis às medidas protecionistas americanas. Isso porque os principais parceiros comerciais do Brasil são China e União Europeia, e não os Estados Unidos. Assim, enquanto a turbulência tarifária se mantiver como um problema essencialmente americano, o Brasil deve escapar dos maiores impactos.

Por fim, ele alertou que o verdadeiro risco para países como o Brasil não é a retaliação americana, mas sim a possibilidade de que outras nações comecem a adotar medidas similares às dos EUA. Embora hoje não haja indícios claros de uma guerra tarifária global, o movimento americano pode inspirar outras rupturas, e isso exige uma atenção contínua dos governos e mercados financeiros.

ANBIMA Summit 2025

Desafios e tendências na gestão de fundos de investimento

Na palestra “Vai fundo: papo de gestão”, realizada por Ana Rodela (Diretora no Bradesco Asset Management), Reinaldo Le Grazie (Sócio da Panamby Capital) e Soraia Barros (Head de Representação de Gestão e Serviços Fiduciários da ANBIMA), foi comentado que a indústria de fundos de investimento segue em expansão, com crescimento robusto em volume e sofisticação dos produtos. No entanto, enfrenta uma arbitragem tributária desfavorável, especialmente quando comparada a outras estruturas de investimento, o que exige uma revisão regulatória e tributária mais equitativa para garantir um ambiente competitivo saudável.

Nesse cenário, a renda fixa continua sendo um porto seguro importante para os investidores. Em um ambiente de juros elevados e incertezas macroeconômicas, ela segue oferecendo previsibilidade, segurança e uma base sólida dentro da alocação dos portfólios.

Um dos grandes destaques dos últimos anos foi o boom do crédito privado. A classe ganhou protagonismo, atraiu investidores institucionais e de varejo, e se consolidou como uma alternativa rentável frente aos instrumentos públicos. Ainda assim, o crédito privado permanece como uma aposta relevante para os próximos anos — não apenas pelo prêmio de risco, mas também pela capacidade de diversificação e geração de valor.

Vale destacar que o crescimento do crédito nos últimos ciclos não ocorreu de forma isolada. Ele foi impulsionado também por limitações ou desafios enfrentados por outras classes de ativos. Isso fez com que parcelas relevantes do patrimônio dos investidores migrassem para o crédito, muitas vezes de forma sublocada, ou seja, com um papel tático de curto prazo. Hoje, essa alocação caminha para se tornar estrutural — com menor volatilidade, bom retorno ajustado ao risco e papel estratégico na construção de portfólios diversificados.

Ao mesmo tempo, ocorre uma mudança significativa na forma como os fundos são geridos. A tecnologia passou a desempenhar um papel central na gestão de ativos, desde a análise de crédito até a alocação e monitoramento de riscos. Plataformas automatizadas, inteligência artificial e sistemas de gestão em tempo real tornam os processos mais eficientes, transparentes e seguros.

Por fim, há também um deslocamento de responsabilidades dentro da estrutura dos fundos. A figura do administrador fiduciário, que antes assumia grande parte dos deveres operacionais e de controle, começa a transferir algumas dessas funções para os gestores. Isso exige ainda mais preparo, responsabilidade e governança por parte dos gestores, que agora assumem uma posição mais integrada na cadeia de decisão e compliance.

O papel do mercado de capitais no desenvolvimento brasileiro

Na palestra “Fala, autoridade”, realizada por João Pedro Nascimento (Presidente da CVM – Comissão de Valores Mobiliários) e Nilton David (Diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil), foi destacado o papel essencial do mercado de capitais no financiamento de setores estratégicos da economia brasileira — como energia, logística, comércio, agronegócio e infraestrutura — e sua crescente participação na democratização do acesso a investimentos. O mercado não é uma força invisível, mas um vetor direto de desenvolvimento econômico e social, aproximando poupadores e tomadores de recursos. Foi comentado também sobre o avanço do varejo e da pessoa física na renda fixa e o fortalecimento da parceria entre ANBIMA, reguladores (CVM e Banco Central) e Poder Legislativo.

Sobre a Resolução CVM 175, que reformulou o marco regulatório dos fundos de investimento, foi comentado que a medida trouxe inovação, alinhamento com padrões internacionais e novos direitos aos investidores, além de dividir melhor as responsabilidades entre gestores e administradores. A norma consolidou mais de 40 regulamentos e passou a tratar diferentes categorias de fundos por meio de anexos específicos (FIDC, FII, FIP, ETF, Fiagro, entre outros).

O desempenho recente da indústria de fundos, que superou R$ 9 trilhões em patrimônio mesmo com os desafios macroeconômicos. Apesar de variações na captação líquida entre 2023 e o primeiro trimestre de 2025, o setor segue em crescimento. Destacou ainda a importância dos FIPs no financiamento de empresas não listadas e o esforço regulatório para atrair pequenas e médias empresas ao mercado de capitais.

Ao abordar o processo de adaptação à nova regulação, foi mencionado que cerca de 71,4% da indústria já se adaptou e a resistência de fundos antigos em incorporar mecanismos como limitação de responsabilidade, Por fim, foi comentado o papel transformador do mercado de capitais na economia real. Usando o agronegócio como exemplo, explicou que, ao financiar grandes produtores via mercado, libera-se espaço no plano safra para pequenos agricultores — promovendo, assim, uma política social indireta.

Conclusão

O ANBIMA Summit 2025 reafirmou a importância do mercado de capitais no desenvolvimento econômico do Brasil, especialmente em um cenário global repleto de incertezas e transformações profundas. As discussões sobre inovação, regulação, tecnologia e sustentabilidade mostraram que o setor precisa estar preparado para desafios cada vez mais complexos, exigindo uma gestão eficiente, transparente e alinhada às expectativas dos investidores.

Para a VERT, participar desse evento foi essencial para fortalecer nosso compromisso com a excelência, a inovação e as melhores práticas do mercado financeiro. Seguiremos atentos às tendências e prontos para contribuir ativamente para o crescimento do setor.

Quer saber mais sobre o mercado de capitais? Continue acompanhando nosso blog para se manter informado com conteúdos atualizados e relevantes que ajudam você a entender melhor esse setor.

Natália Pinho Marques Diniz

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