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Diferenças entre securitização corporativa e pulverizada

8/9/2025

Conheça as principais diferenças entre securitização corporativa e pulverizada e descubra qual modelo atende melhor às suas necessidades.

Securitização é uma técnica financeira que permite transformar títulos de crédito, como contratos de empréstimo, em títulos negociáveis no mercado de capitais. Isso possibilita que empresas captem recursos financeiros ao emitir valores mobiliários.  

O marco legal da securitização no Brasil, estabelecido pela Lei nº 14.430/2020, tem como objetivo fomentar esse mercado no país, tornando-o mais atrativo para investidores e garantindo maior segurança jurídica para todas as partes envolvidas.

Dentro desse contexto, existem diferentes modelos de securitização, como a corporativa e a pulverizada, nas quais a principal diferença entre elas está na concentração do risco e na base de ativos que lastreiam os títulos.

O que é securitização corporativa?

Na securitização corporativa, também chamada de “concentrada”, os títulos são lastreados por ativos vinculados a um único devedor ou a um grupo pequeno de devedores. O lastro costuma ser um crédito originado diretamente com essa companhia, como debêntures, notas comerciais, Cédulas de Crédito Bancário (CCBs), contratos de fornecimento, entre outros.

Esse modelo possui uma estrutura de crédito mais simples e transparente, facilitando a avaliação pelos investidores. É comum em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). Como o risco da estrutura está concentrado principalmente no risco de crédito de poucos devedores, é necessária uma análise detalhada do balanço, setor de atuação, riscos operacionais e liquidez da empresa.

Caso o tomador principal não cumpra suas obrigações, os pagamentos dos títulos podem ser comprometidos. Essa menor diversificação pode exigir a inclusão de covenants financeiros ou garantias adicionais para proteger os credores.

Além disso, os ativos têm prazos compatíveis com o vencimento da operação, e os fluxos de pagamento são mais previsíveis, proporcionando maior segurança e confiança no retorno do investimento.

O que é securitização pulverizada?

A securitização pulverizada, também chamada de “diversificada”, apesar de menos conhecida e compreendida pelo investidor brasileiro, tem ganhado cada vez mais espaço, principalmente por apresentar estruturas de crédito mais robustas.  

Nessa modalidade, os títulos são lastreados por vários devedores, com recebíveis originados de diferentes tomadores. A carteira ampla dilui o risco específico de cada devedor, reduzindo o impacto da inadimplência isolada. Esse é o modelo tradicional dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e vem sendo cada vez mais usado em debêntures securitizadas, Certificados de Recebíveis (CRs), CRAs e CRIs.

Esse tipo de estrutura exige uma modelagem estatística robusta e atenção a critérios como perda histórica da carteira, concentração por devedor, prazo médio, diversificação geográfica e mecanismos de subordinação. A operação é dinâmica, com cessões frequentes e um grande volume de informações processadas diariamente.

Principais diferenças entre os modelos

A seguir, apresentamos os principais pontos que as diferenciam essas diferentes formas de securitização:

Exemplos práticos de estruturas híbridas

A separação entre estruturas corporativas e pulverizadas é importante para entender os fundamentos de risco. Mas isso não significa que esses modelos não possam coexistir dentro da mesma operação. Confira alguns casos:

  • Estrutura híbrida com garantia pulverizada: um CRA pode ser lastreado em uma dívida corporativa, mas ter como garantia uma carteira de duplicatas pulverizadas. Nesse caso, o risco do investidor é corporativo, mas a análise da carteira como garantia também exige critérios típicos de uma estrutura pulverizada.
  • FIDC com cobertura de seguro: mesmo em uma operação pulverizada, se houver apólice de seguro para a cota sênior, o investidor passa a ter exposição também ao risco da seguradora, o que demanda uma análise de caráter corporativo.
  • Operações originadas por fintechs: estruturas pulverizadas lastreadas em empréstimos originados por uma fintech exigem avaliação da capacidade dessa empresa de continuar operando. Embora o risco principal esteja na carteira, é necessário analisar o caixa, o modelo de negócios e a continuidade operacional da fintech.

Em outras palavras, mesmo quando a estrutura é predominantemente corporativa ou pulverizada, o entendimento completo do risco frequentemente deve incluir elementos da outra abordagem.

Gestão e precificação da operação

A estrutura adotada impacta diretamente a rotina de gestão e administração da operação. No modelo corporativo, o acompanhamento é mais pontual, focando em eventos de crédito, garantias e covenants.  

Já no modelo pulverizado, a gestão é diária, envolvendo cessões, conciliações e monitoramento constante da inadimplência e da carteira.

Essas diferenças influenciam diretamente a precificação dos serviços. Considerar que ambas as estruturas exigem o mesmo nível de esforço ou estrutura operacional é um erro que compromete não só a remuneração adequada, mas também a qualidade do acompanhamento pós-emissão.

Considerações finais

A escolha entre securitização corporativa ou pulverizada depende do equilíbrio entre risco, liquidez, custo de estruturação e os objetivos estratégicos da instituição emissora e do investidor.  

Enquanto a securitização pulverizada tende a oferecer maior resiliência aos riscos de crédito, devido à diversificação, a securitização corporativa pode proporcionar maior simplicidade.

Em ambas as alternativas, governança, transparência e gestão de riscos são fundamentais para o sucesso.

Gabriel Lopes

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